terça-feira, 14 de junho de 2011

HISTÓRIAS E CAUSOS CONTADOS NA VARANDA DA CASA NA FAZENDA

OS CAUSOS CONTADOS NA VARANDA DA CASA NA FAZENDA

Sempre ao final de mais um dia, quando a noite descia sobre a fazenda, ficávamos esperando o momento em meu pai nos convidava para visitar um vizinho de fazenda, muito querido que nós chamávamos carinhosamente de Domingão.
 Era lá que saboreávamos as mais deliciosas pamonhas feitas na hora, ainda quentinhas, feitas com milho verde plantado e colhido ali mesmo na fazenda. Confesso que a imagem daquela peneira feita de taboca, colocada em cima da bica de água,cheia de pamonhas quentinhas recém-saídas do tacho, não me sai da memória.
Era a hora mágica em que meu pai e o Domingão nos presenteavam com seus causos e suas histórias incríveis, envolvendo assombrações, perigos vividos no mato e como sempre o melhor assunto era sobre caçadas de onças.
Num instante estávamos todos em volta de meu pai e do Domingão, com os olhos curiosos e ouvidos atentos, sedentos de uma aventura bem contada.
Contaram-nos certa vez de uma caçada que dois amigos seus fizeram nas matas do antigo Mato Grosso, no tempo em que ainda não se falava em ecologia.
Sempre que podiam lá estavam eles entrando mato adentro, à procura de algum bicho.
 Bem cedinho pegavam seus cachorros americanos, bons de caça e de faro, suas armas carregadas e lá iam os dois à procura de algum queixada, anta ou mesmo de alguma onça, por que não?
Como a caçada era cansativa, iam de carro até uma certa altura para depois seguir a pé pelo mato, pois não gostavam de fazer caçada de espera em cima de árvores.
 Gostavam mesmo era de correr pelo mato, seguindo os cachorros incansavelmente perseguindo o bicho para finalmente vencê-lo.
Com os cachorros seguros por cordas, esperavam a hora em que os animais percebessem alguma coisa pelo faro e firmassem na batida de algum bicho.
Isso não tardou a acontecer. Um bando de queixadas logo foi avistado pelos cães que se agitaram, já se soltando das cordas que os seguravam.
Corre daqui, persegue dali e os cães já sumiam por dentro da mata, atrás dos porcos-do-mato.
Os dois caçadores corriam muito, sem conseguir, entretanto, acompanhar a corrida desenfreada dos cães.
Foi aí que decidiram ir caminhando devagar, já que ouviam ao longe o latido dos cachorros atrás dos queixadas. Não seria dessa vez que trariam aquele troféu de caça para exibir para suas mulheres.
O mais esperto dos caçadores foi, então, caminhando na frente, querendo chamar os cachorros de volta, enquanto o outro o acompanhava um pouco distante, parando para descansar embaixo de uma árvore.
Não demorou muito tempo e o companheiro de caçada já voltava de sua perseguição para se juntar ao amigo que o aguardava ainda debaixo da árvore.
De repente caiu de cima da árvore onde estava, um filhote de queixada, muito gordinho, quase lhe acertando a cabeça, ao que o outro avisou em tom de urgência que ficasse parado, porque um grande perigo o ameaçava.
Bem em cima de sua cabeça estava uma onça parda, que, com certeza havia levado para cima da árvore o tal filhotinho de queixada. Bastou um tiro bem dado para que a onça caísse aos pés do caçador assustado.
Até hoje penso na veracidade dessa história que eles nos contaram com ares de verdadeira, mas me lembro bem que os dois contavam e riam muito, depois diziam que essa era mais uma história de caçador.
           Daí se deduz que esse era mais um’”causo’” encantador contado na varanda da fazenda, em noites enluaradas, antes da hora de dormir. 
          
           Dizem que nenhuma criança sente medo ouvindo histórias nos braços do pai e isso é bem verdade. A gente cresce e vez por outra vem à tona essas  doçuras de infância e isso dá uma vontade imensa de voltar no tempo e agarrar esses momentos para nunca mais deixar que se esvaneçam. 
          Quanta saudade sinto.....quanta.....

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