domingo, 12 de junho de 2011

A ENORME PREGUIÇA DE SOFRER

 O sol está quase nascendo e pulamos da cama pra ver o dia amanhecendo,num momento de alegria.Olhamos pela janela e a paisagem que vemos é das mais bonitas. Ipês floridos dão um colorido às montanhas perto de nossa casa.
 Quanto mistério há nessas matas...Basta fechar os olhos para sentir a brisa gostosa que vem das montanhas.
      Não foi preciso coragem para escolher viver num lugar assim, longe dos atrativos da cidade grande,porque chega um dia na vida da gente em que é preciso fazer uma mudança.Há que se fugir da mesmice de uma vida sempre igual. Ou vc faz isso ou emudece os gritos da alma.
     .Para mudar é preciso coragem porque acabamos por achar que há nobreza em viver no casulo de nossas acomodações.Acho mesmo que o perigo existe quando ficamos à margem de nossos anseios,quietos no silêncio da desesperança.A aposentadoria costuma fazer isso com as pessoas que sempre correram apressadas pelos corredores da busca pelo ganha-pão.
     O que fazer depois que adquirir coisas já não faz mais parte de nossos sonhos?O que resta?Seria o silêncio de tudo que não foi?Seria a lembrança de coisas e pessoas cujos contratos de alma com a nossa já não mais vigoram?Aposentadoria é mesmo um perigo...
     Hoje eu sei  que não tenho mais regras a seguir, nem um despertador a me chamar para a correria do mundo capitalista.;sei que tenho meu lugar,onde reino absoluta e que fiz na hora certa a minha travessia.
     Não tenho mais pressa e na minha idade posso sentir a enorme preguiça de sofrer. Medos, se já os tive, superei... Mágoas, não as tenho...esqueci ou deixei pra lá, nem sei...Se erros  cometi, já me perdoei...Sei depois de tudo que posso contar com muitos domingos numa única semana de uma  vida gostosa e que não há mal algum em passear irresponsável pelas horas dos meus dias,
     Amanhece  e eu observo a renovação da vida.Contemplar o sol nascendo no horizonte é uma de minhas obrigações diárias, da qual dou conta e faço questão...Sei em momentos assim que sobrevivi.
     Da cozinha, o cheiro gostoso do leite fervendo e do café quentinho coado no coador de pano, permanecendo aquecido na chapa do fogão a lenha.
    Em cima da mesa de madeira maciça, o delicioso pão de manjericão(40 folhinhas picadinhas dão o sabor inigualável ao pão) e uma fatia de queijo coalho feito pelo TID. O sabor das coisas prontas e das delícias do mundo civilizado são parte de uma vida que já passou...Atenho-me aos meus pés de tomate e aos meus pés de manjericão.Travo diariamente uma luta cerrada com as ervas daninhas que teimam em invadir os meus canteiros.
    Lá fora, os passarinhos  cantam alegrando nosso amanhecer.
    De cima do pé de acerola, o aracuã nos dá bom dia enquanto os tucanos fazem sua algazarra devorando nossos mamões maduros.É a vida mais que perfeita!
    Essa é a opção que fizemos. Penso na rotina atribulada que a gente tinha e tenho a certeza de que essa vida simples e gostosa chegou a tempo para  nós dois.

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